por Robert Dilts
Se você não faz A, não (sobreviverá, estará seguro, se divertirá, se sentirá bem como pessoa, etc). Mas se você faz A, também não (sobreviverá, estará seguro, se divertirá, se sentirá bem como pessoa, etc).
Os julgamentos das bruxas de Salem são um exemplo clássico desta classe de situação. Uma das provas para determinar se uma acusada era ou não bruxa consistia em amarrá-la e atirá-la viva na água. Se flutuasse e sobrevivesse estava claro que era uma bruxa, mediante o que era condenada à morte e executada. Se se afundava e afogava-se, era absolvida da suspeita de bruxaria, entretanto, evidentemente, também morria.
Não é nada incomum que os clientes sintam que se encontram em uma espécie de “julgamento” de tal índole. Embora sem dúvida menos espetaculares, na vida cotidiana se produzem freqüentemente duplos vínculos. Tomemos como exemplo o marido que pergunta a sua esposa o que pensa de tal ou qual assunto, e ela lhe responde azedamente que “isto não é assunto seu”. Se não tivesse perguntado, sua esposa o teria criticado por “não se importar” com a sua opinião. A incapacidade do marido para extrair o significado de cada uma das duas mensagens e responder adequadamente o faz sentir-se inadequado como marido.
Os negócios não estão imunes a esta classe de situações. Peguemos como exemplo o caso de uma pessoa cuja quantidade de trabalho tenha se tornado tão grande que já não consiga executá-lo. Fazer uma parte desse trabalho significa deixar outra parte sem fazer. Porém, se faz essa outra parte, é a primeira que fica sem ser feita. Faça o que fizer, não está cumprindo com sua tarefa.
Outro duplo vínculo corrente no mundo dos negócios se relaciona com o processo de “corte de funcionários”. O gerente, frente à possibilidade de ter eu dispensar pessoas de sua organização, vê-se freqüentemente atrapalhado no atoleiro de querer que tanto seu pessoal quanto o seu negócio tenham “êxito”. Se reduz o pessoal, os que ficam sem emprego ficam sem renda, podem perder sua casa, etc., mediante o que o gerente não terá atingido seu objetivo de que aqueles que trabalham para ele tenham “êxito”. Se, pelo contrário, não reduz a folha de pagamento, o negócio pode ver-se comprometido e, inclusive, quebrar; em outras palavras, não ter “êxito”. O gerente se encontra, portanto, no atoleiro de falhar com respeito a seus empregados ou de falhar perante a empresa.
Os duplos vínculos mais intensos ocorrem no contexto das relações interpessoais significativas. Freqüentemente implicam no que parece ser uma luta de poder na qual a pessoa está “patrocinando negativamente” a outra, ou procurando “fazê-la sentir-se mal”.
Como exemplo de tal situação, Bateson cita o caso de um rapaz que estava hospitalizado com diagnóstico de “esquizofrenia”. Após passar algum tempo no hospital, o garoto tinha estabilizado o suficiente para receber visitas. Um dia sua mãe foi vê-lo. Ao estar frente a ele, a mãe perguntou: “Não vai dar um abraço em sua mãe?”. Polidamente, o rapaz pôs os braços ao redor de sua mãe. No entanto, ao tentar beijá-la, esta se pôs visivelmente rígida, claramente incomodada pelo contato físico. Respondendo à mensagem não verbal de sua mãe, o garoto afastou-se confuso de seus braços, diante do que sua mãe perguntou-lhe: “O que está acontecendo? Não gosta de tua mãe?” Ainda mais confuso e incomodado do que antes, o rapaz ficou tenso e afastou o olhar, diante do que a mãe alfinetou: “Você tem que aprender a controlar suas emoções”. A interação de ambos continuou dessa maneira, com a ansiedade do rapaz aumentando por alguns momentos, até que explodiu em um episódio violento que necessitou que fosse fisicamente contido.
Embora não se trate de uma situação tão dramática como a das bruxas de Salem, estão presentes nela todos os ingredientes de um duplo vínculo. A primeira mensagem é: “Se você não me abraça é porque não me ama (e por conseguinte não terá minha aprovação)”. No entanto, a segunda mensagem é: “Se você me abraça, me faz sentir-me incomodada e me afastarei (e por conseguinte não terá minha aprovação)”.
Neste caso há também uma terceira mensagem relacionada com a reação do rapaz ante o dilema. O comentário de que “você tem aprender a controlar suas emoções” implica que a fonte do problema está na incapacidade do filho para controlar suas emoções, em vez de estar na incongruência da mãe. A implicação consiste em: “O fato de você se sentir confuso significa que algo não funciona bem em você. Você é a causa do problema/confusão/etc.”
Essa terceira mensagem parece ser uma parte importante do padrão de duplo vínculo. A outra pessoa interpreta o incômodo ou a confusão do indivíduo como um sinal de 1) incompetência, ou de 2) intenção negativa procedente de uma posição de poder da pessoa pega no duplo vínculo (inversão da realidade). Também, de maneira muito freqüente, a terceira mensagem corresponde ao nível de identidade e constitui essencialmente uma mensagem de “patrocínio negativo”, sendo sua implicação a de que a confusão na qual se encontra o indivíduo é uma prova evidente de seu defeito neste nível, quer dizer, que a ansiedade por encontrar-se em um duplo vínculo é um sinal de caráter defeituoso de quem o experimenta. Talvez esse terceiro aspecto do duplo vínculo seja o que o faz mais emocionalmente intolerável
Tradução livre de Valdecy Carneiro.
Extraído do livro:
Coaching: Herramientas para el Cambio
Ediciones Urano
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